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Cadê o

passarinho

que tava aqui?

A biodiversidade alagoana ameaçada pelo tráfico de aves

Bianca Melo e Kerollaynn Gomes

02/04/2019

Foto: Bianca Melo

Tráfico de aves silvestres representa 80% das apreensões no estado de Alagoas

Joaquim Lima*, primogênito de dez filhos, cresceu em uma fazendinha no interior de Alagoas, no município de Atalaia. Ali, em meio a cavalos e bois, o canto dos pássaros servia como despertador a cada nova manhã. O carinho pelos bichos emplumados começou assim, e a memória vem ao senhor de 60 anos com frescor de infância e nostalgia.

 

“Eu criei muitos pássaros que hoje em dia são proibidos. Patativa, galo-de-campina, curió. Criava para ouvir os cantos mesmo, como todo mundo. Depois veio a tal da lei que proibia, mas nunca me importei porque era difícil que o pessoal denunciasse”, conta com ar risonho. “Há uns dez anos eu soltei os que tinha. Comecei a ter dó dos bichos presos na gaiola. Gostava do canto, mas na natureza eles têm mais valor, então deixei ir”.

 

Assim como o sr. Joaquim, o fascínio pelo canto dos pássaros é o atrativo que faz com que muitas pessoas queiram ter esses animais em casa. Um costume não apenas cultural, passado de pai para filho, mas um traço humano de querer possuir aquilo que é belo. Além disso, manter animais em cativeiro também se trata de um processo histórico que fez parte da evolução humana. O problema reside quando esse desejo incita um crime: a destruição da fauna e o tráfico de pássaros silvestres.

Enquanto o sr. Joaquim mantêm as aves apenas em suas lembranças, Fábio Souza* acorda cedo todas as manhãs com o canto dos pássaros que cria em seu quintal. São seis espécies ao todo, entre elas gaporda e canário belga. No entanto, as demais são criadas ilegalmente: jandaia, cebite, caboclinho e curió. Ou seja, são provenientes da captura e comércio irregular de animais: “Consegui [as aves] pelas mãos de outras pessoas, outros criadores, que com certeza devem ter comprado no mercado ilegal ou feito a captura delas”.

Para ele, criar aves tornou-se um hobby comum. “Crio aves pelo canto ser bonito, pela competitividade de canto. Eu sou contra a criação de animais para rinha, porque, para mim, a ave nasceu para cantar. Acho que é um costume já implantado pelos mais antigos, que nos fazem ver os animais de estimação como competidores”, conta.

Fábio afirma que já tentou se informar sobre como realizar a legalização das aves que cria, mas até o momento não há essa possibilidade. A responsável técnica do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), Cynira Alves, explica por que isso ocorre no áudio ao lado.

O biólogo e diretor do Instituto SOS Caatinga, Marcos Araújo, afirma que o comércio de aves ainda tem força porque as pessoas permanecem comprando. “As pessoas têm a cultura de manter pássaros em cativeiro e algumas de fato vivem disso. Então para aqueles que já têm habilidade com caça é mais fácil. Algumas chegam a custar 30 mil reais, o que pode parecer fora da nossa realidade, mas muitos estrangeiros compram”, diz. De acordo com ele, as formas de remediar estão no resgate das aves e nas detenções.

Fábio tem conhecimento sobre a legislação. No entanto, acredita que ela poderia ser mais flexível. “Alguns pontos são exagerados. Por exemplo, sou contra que a pessoa pega em flagrante perca a ave. Acho que se ave foi avaliada pelo fiscal sem condições de retornar à natureza, ela deve ser deixada com seu portador, que por sua vez, deve ser incentivado a legalizá-la. Mas acredito ser correta a aplicação de multa, afinal quem erra sabe que está errando”, conclui.

Criação de aves silvestres - Cynira Alves
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Clique sobre as imagens e escute o canto das aves. Clique sobre seus nomes e conheça mais sobre elas.

JANDAIA.jpg

Jandaia

(Aratinga jandaya)

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Cebite

(Coereba aveola)

CABOCLINHO.jpg

Caboclinho

(Sporophila ruficollis)

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Curió 

(Sporophila angolensis)

Fonte: Livro Tráfico de Fauna em Alagoas (IMA e Ibama)

*Nomes falsos com fins de preservar a identidade da fonte.

O que diz a lei?

O que diz a lei?

Yneusmar damaso.jpg

Entrevista com o advogado 

Yneusmar Damaso
 

Advogado do Tribunal Regional do Trabalho de Alagoas (TRT 19ª região), Yneusmar Quintino Damaso representou Alagoas durante a formulação da Lei Estadual que regula a criação de aves. Além disso, Damaso também é criador amador de passeriformes (pássaros de pequeno porte) e presidente da Associação Alagoana dos Criadores de Curiós (AACC). Leia a entrevista que ele nos concedeu sobre a legislação que abrange o assunto:

O caput do art. 1º da Lei nº 5.197/67 proíbe a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha do animal silvestre bem como de seus ninhos, abrigos e criadouros naturais. O caput do art. 29 da Lei nº 9.605/98 determina a pena de detenção de seis meses a um ano e multa para o crime de​

matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida.

Porém, quem mantém animais em cativeiro ilegalmente, pode fazer a entrega voluntária no Cetas, localizado na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Maceió. De acordo com a Lei nº 9605/98, 

no caso de guarda de espécime silvestre, deve a autoridade competente deixar de aplicar as sanções previstas neste Decreto, quando o agente espontaneamente entregar os animais ao órgão ambiental competente.

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galo de campinha.png

Galo-de-campina

(Paroaria dominicana)

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Extravagante

(Sporophila albogularis)

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Papagaio

(Amazona ochrocephala)

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Pintor-verdadeiro

(Tangara fastuosa)

Aves em risco de extinção, como as do exemplo acima, podem resultar em multa de até R$ 5 mil por indivíduo e ainda receber um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO),  o registro de um fato tipificado como infração de menor potencial ofensivo, ou seja, crimes de menor relevância, que  tem pena máxima até 2 anos de prisão ou multa. 

Baixe abaixo o PDF sobre a Legislação de Crimes Ambientais:

Atividade Lucrativa

Foto: BPA/AL

Atividade

Lucrativa

Cerca de 4 milhões de animais são traficados por ano, movimentando em torno de R$ 1,5 bi

O tráfico de animais silvestres é o terceiro maior do mundo, perdendo apenas para o de armas e drogas. De acordo com a Organização Não Governamental (ONG) Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), todos os anos, cerca de quatro milhões de animais são retirados de seu habitat natural para o comércio ilegal, que movimenta aproximadamente R$ 1,5 bilhão por ano.

 

A média de preços cobrados por pássaros silvestres no mercado ilegal são altos. Uma arara, por exemplo, pode custar R$ 8 mil, dependendo da espécie; por um pássaro curió, os comerciantes cobram até R$ 5 mil, dependendo da altura e canto; xexéus e sabiás são vendidos por até R$ 3 mil. Ainda segundo a ONG, o mercado consumidor desses animais é maior no exterior, em países europeus e asiáticos. Porém, parte dessas espécies são comercializadas dentro do Brasil, que participa com cerca de 5% a 15% desse crime, seja para criação, consumo ou exploração de pele e penas.

 

Em seus levantamentos, o Batalhão de Polícia Ambiental de Alagoas (BPA/AL) separa o tráfico entre aqueles que são vendidos nas feiras livres e que muitas vezes são capturados pelos próprios comerciantes, e aqueles que levam as aves para fora do estado para que sejam vendidas por preços maiores, normalmente compradas por turistas estrangeiros. Segundo o Ten. Wenderson Vieira, do BPA/AL, pelo preço que são vendidos nas feiras, o tráfico é financeiramente mais prejudicial do que vantajoso para os comerciantes. “Os animais são vendidos a qualquer preço em feira livre. Há curiós sendo vendidos por 25 reais, por exemplo. Se for pensar no lucro de quem vende, em comparação com a multa que podem receber, não é muito. E não chega aos pés do valor da ave, não por uma questão financeira, mas pela importância que ela tem para a natureza”, explica.

Animais Silvestres – Vidas à Venda foi uma publicação da Renctas, lançada em novembro de 2019, e apresenta dados precisos ao analisar os desdobramentos do tráfico no país. “O Brasil possui uma das maiores diversidades de fauna no mundo. Ocupa o primeiro lugar em número de espécies e a terceira posição em relação às aves, com 1677 espécies”, diz o livro.

Aves mais apreendidas em ações de fiscalização de acordo com o banco de dados do Cetas

Aves ameaçadas de extinção em listas oficiais como a da Portaria no Ministério do Meio Ambiente nº 444/2014

Números do tráfico

Apreensões de animais traficados realizadas pelo BPA/AL

Gráfico_crescimento_do_tráfico.jpg

Como é possível observar no gráfico acima, durante as apreensões realizadas pelo BPA/AL nos últimos três anos, o tráfico de aves silvestres manteve-se estável (entre 8.408 e 7.102), resultando numa média de 20 aves apreendidas por dia. No entanto, em 2018, o número de apreensões de outros animais superou de maneira exorbitante o número de apreensões de aves, devido às fortes ações voltadas para a fiscalização de pescados durante o ano. No âmbito municipal, as operações ficam sob a responsabilidade do BPA/AL, que realiza fiscalizações em feiras livres aos fins de semana, onde há maior incidência de comércio ilegal de aves.

Além disso, fazem rondas diárias com até quatro viaturas atendendo a denúncias e demandas solicitadas por outros órgãos ambientais. O Ibama atua em ações esporádicas, como nas BRs, e quando contatado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante apreensões. Porém, desde que a nova legislação entrou em vigor, as funções do Ibama, órgão federal, estão passando para o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), órgão estadual. Atualmente, a competência se encontra em fase de transição, por isso os dois órgãos dividem tarefas administrativas, executando-as em conjunto.

Procedimentos realizados pelo BPA/AL

Procedimentos

Resgates

procedimentos realizados bpa.jpg
RESGATES.jpg

2018

(814)

2016

(631)

2017

(735)

Resgates realizados pelo BPA/AL

infográfico: Bianca Melo | Dados: BPA/AL

Tráfico que destrói

Foto: Bianca Melo

Tráfico

que

destrói

A cada dez animais traficados, apenas um sobrevive ao processo

de captura e transporte.

“Hoje, 88% da caatinga alagoana está devastada, e o tráfico contribui para isso em conjunto com o desmatamento. São as aves que realizam o equilíbrio da flora, porque são elas que comem as sementes que irão germinar”, afirma o biólogo e diretor do Instituto SOS Caatinga, Marcos Araújo. Em 2015, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um levantamento que apontava a perda de 90% da reserva nativa da mata atlântica e 82,6% da caatinga em território alagoano. Considerando que a mata atlântica compreende 52% do bioma em Alagoas, enquanto a caatinga se estende por 48%, o que resta hoje são poucos fragmentos típicos de cada um.

mapa biomas.png

Fonte: Gabriel Alves

Não apenas a flora sofre com as consequências do tráfico, como também a fauna. A estimativa apontada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), é que de cada dez animais traficados, apenas um sobrevive ao estresse e maus tratos durante o processo de captura e transporte. “As pessoas que retiram as aves da natureza não têm conhecimento sobre o manejo e o cuidado corretos que esses animais precisam. Muitas vezes os pássaros são anestesiados, os passeriformes são transportados em cumbucas, sem água, sem comida, e se um fica doente corre o risco de contagiar os demais”, informa a veterinária Ana Cecília Pires. Segundo ela, aves que estão acostumadas com a vida no meio ambiente natural, dificilmente conseguem se adaptar ao cativeiro.

Além dos maus tratos, retirar um animal de seu habitat natural aumenta significativamente as chances de sua extinção. Apesar de não haver uma categoria que especifique todas as aves estão realmente extintas em Alagoas, aves como curió (Sporophila Angolensis), papa-capim (Sporophila nigricollis) e bicudo (Oryzoborus Maximiliani), que são consideradas algumas das mais típicas do território, já não podem ser encontradas no ambiente do Estado.

 

Pires explica que existem dois tipos de aves: a generalistas e as especialistas. “As generalistas conseguem se acostumar a qualquer ambiente, se adaptam a impactos humanos e até sobrevivem em meios urbanos. Já os especialistas dependem de uma fonte limitada de sobrevivência, então se o ambiente em torno dele for modificado, há um maior risco de ele morrer e então ser extinto”, explica.

As pessoas que possuem animais silvestres em casa, retirados da natureza, também contribuem para uma série de problemas. De acordo com a publicação na Revista Ciência e Cultura, publicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), os biólogos Leonardo Ribeiro e Melissa Silva afirmam que "os animais capturados perdem a habilidade de caçar alimentos, de se defenderem de predadores ou de se protegerem de condições adversas. Além disso, um animal preso é privado do processo reprodutivo, ficando incapacitado de gerar descendentes, aumentando o risco de extinção de várias espécies". 

Imagem: Bianca Melo

Rota

do

tráfico

Rota do Tráfico

Alagoas torna-se rota fácil para o tráfico por meio da BR-101 que atravessa doze estados

Por estar localizado entre outros estados (Bahia, Pernambuco e Sergipe) e fazer parte do trecho da BR-101, Alagoas torna-se uma rota fácil para o tráfico. A rodovia atravessa doze estados brasileiros, começando no Rio Grande do Norte e encerrando no Rio Grande do Sul. Em território alagoano, ela tem início no km 78, em Rio Largo, e finaliza no km 248, em Porto Real do Colégio.

 

O Ten. Wenderson Viana afirma que o BPA possui informações de que alguns animais traficados chegam da Bahia por meio dessa rota. “Há um tempo nós do próprio Batalhão monitorávamos, e a PRF, nossa parceira, ainda tem feito algumas operações e tido sucesso nas apreensões relacionadas a esse tráfico”, diz. Em 2017, a PRF atendeu 18 ocorrências ligadas aos crimes ambientais. Em 2018, os crimes que envolvem animais silvestres passaram a ser especificados: 39 animais mortos e 16 vivos foram apreendidos. Até março deste ano, a instituição apreendeu oito animais vivos e uma pessoa foi detida.

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Rota do tráfico de animais em Alagoas

Rota do tráfico de animais em Alagoas

Matérias sobre ações de resgate e apreensão em veículos online alagoanos (clique e veja as notícias)

“Os locais de maior vulnerabilidade que consideramos são os fragmentos de vegetação nativa existentes em nosso estado, seja no bioma Mata Atlântica ou na Caatinga, os quais detêm grande número de espécies ameaçadas. Vale ressaltar que a Mata Atlântica Brasileira é considerada um dos hotspot [área que possui grande variedade de espécies em risco] mundiais da biodiversidade com urgência em ações de conservação dos recursos”, explica o médico veterinário e gerente do núcleo Gestão de Fauna, Flora e Unidades de Conservação (Gefau) do IMA, Epitácio Correia. O setor atua diretamente no recebimento dos animais atendidos, no suporte clínico junto ao Cetas, além da realização de vistorias, avaliação de áreas de soltura e difusão de informações acerca da temática para a sociedade.

Foto: IMA/AL

Combate

ganha 

asas

Combate ganha asas

As ocorrências mais comuns são criações em cativeiro irregular

e comércio ilegal

Correia afirma que está havendo uma evolução perceptível no estado com relação às ações de fiscalização, principalmente por meio da atuação conjunta entre as instituições. “Aumentamos significativamente nosso efetivo de técnicos e fiscais que atuam diretamente no combate desses crimes, temos uma forte atuação local, regional e nacional no tocante a políticas públicas de conservação e combate ao tráfico de animais silvestres. Porém, reconhecemos que ainda há um longo e contínuo caminho a seguir”, disse. Segundo ele, as ocorrências mais comuns são as criações de aves silvestres em cativeiro irregular localizado em residências e o comércio ilegal que pode ser encontrado em feiras livres.

Localização das feiras livres onde ocorre comércio irregular de aves
Mercado público de Delmiro Gouveia
Feira livre de Piranhas
Feirinha levada
Feirinha do Tabuleiro
Feirinha Arapiraca

No âmbito municipal, as operações ficam sob a responsabilidade do BPA/AL, que realiza fiscalizações em feiras livres aos fins de semana, onde há maior incidência de comércio ilegal de aves. Além disso, fazem rondas diárias com até quatro viaturas atendendo a denúncias e demandas solicitadas por outros órgãos ambientais. O Ibama atua em ações esporádicas, como nas BRs, e durante apreensões quando contatado pela PRF.

 

Segundo o Ten. Wenderson Nunes, há duas maneiras de realizar abordagens nas feiras livres. “A primeira é quando enviamos alguém da equipe para que se infiltre com roupas civis e verifique quem realmente está vendendo. A segunda é quando chegamos fardados, mas de longe os informantes nos veem e logo dispersam os comerciantes. Mesmo que encontremos o animal, muitas vezes não encontramos quem vende”, explica.

 

O Ten. também afirma que é cada vez mais necessário atuar de forma dinâmica, pois as pessoas que estão envolvidas com esse tipo de tráfico vêm atualizando suas técnicas de vendas por meio de grupos nas redes sociais, o que configura uma nova modalidade do crime. “O que nós buscamos é sempre responsabilizar o traficante, e para isso precisamos contar com as denúncias e com nosso levantamento através do setor de inteligência, que verifica as informações que chegam até nós”, diz.

Fiscalização Preventiva Integrada

Uma das ações que vem apresentando resultados é a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), um projeto que surgiu na Bahia há cerca de dez anos através da promotora Luciana Cury junto ao Conselho Regional de Engenharia (CREA) . O objetivo é reunir todos os órgãos ambientais e fiscalizadores.

 

Em Alagoas, o Ministério Público Estadual (MPE), com a liderança dos promotores Lavínia Fragoso e Alberto Fonseca, adotou a ideia e hoje é o órgão à frente da ação, que ocorre duas vezes ao ano. Em 2019, o estado contará com sua décima etapa, reunindo 22 órgãos, que devem percorrer as cidades do sertão e ribeirinhas, às margens do Rio São Francisco.

 

“São treze dias visitando de seis a oito cidades. Resgatamos vários animais, principalmente aves”, explica Marcos Araújo. O Instituto SOS é um dos órgãos que atua em conjunto com o BPA e Ministério Público do Meio Ambiente. Nos dias de fiscalização, os órgãos resgatam animais tanto em feiras livres quanto em residências, aplicando as punições cabíveis.

 

“O BPA ajuda no planejamento e faz o levantamento das demandas por meio de geoprocessamento. Verificamos se os alvos procedem, coletamos mais algumas características para montar uma cartilha de alvos em que cada equipe irá atuar no período da FPI”, explica o Ten. Wenderson Vieira.

 

Onze equipes atuam durante a Fiscalização, sendo divididas por temas e funções. A equipe de número 6 é a responsável pela fiscalização da fauna. “Verificamos a região, fazemos triagens, vamos de residência em residência. No interior há uma cultura muito forte de criação de pássaros silvestres, então já encontramos, durante a FPI, pessoas que criavam 120 aves em casa, todas ilegais”, afirma o Tenente.

Confira abaixo a explicação da Médica Veterinária Ana Cecília Pires sobre as divisões de tarefas e os procedimentos durante a FPI:

Do resgate à soltura

FEIRINHA DO TABULEIRO.jpg

Imagem: Ascom BPA

Ave resgatada ou apreendida durante ação de um órgão ambiental

DSCN0124.JPG

Imagem: Bianca Melo

Dá entrada na sede do Cetas, no Ibama/AL

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Imagem: Bianca Melo

Passa pela triagem e identificação de  sua espécie

Imagem: Bianca Melo

contorno passarinho.png

Avaliação clínica e comportamental a fim de estabelecer se há aptidão para retorno imediato ao meio ambiente (soltura)

Identificada como apta

infografico cetas - analise da area.jpeg

Imagem: IMA/AL

Identificação e análise do local de soltura de acordo com bioma e habitat, ocorrência de espécies, capacidade de suporte, segurança, disponibilidade alimentar e hídrica, entre outros.

FPI - soltura 3.jpg

Imagem: MPE

Soltura da ave em seu habitat natural

contorno passarinho vermelho.png

Identificada como não apta (podem apresentar incapacidade física, traumas, enfermidades ou estado de mansidão)

papagaio_reabilitação.jpeg

Imagem: IMA/AL

É encaminhada para reabilitação e/ou tratamento – quando necessário – para uma nova avaliação posterior

infografico_cetas_-_mutum_de_alagoas_par

Imagem: Parque das Aves

Caso a nova avaliação aponte que não há aptidão para retorno à natureza, a ave é encaminhada para um empreendimento próprio, como zoológicos ou criadouros, que são avaliados de acordo com sua capacidade, licenças e higienização adequada

Fonte: Cetas/Ibama

FPI

A responsável técnica do Cetas, Cynira Alves, afirma que durante este ano de 2019, o órgão formulará ações visando a educação ambiental dentro de escolas, e em reuniões de associações, com foco específico nas áreas de soltura. “Nós temos como objetivo minimizar os impactos contra o tráfico de animais, e incentivar as pessoas a entregarem os animais que criam ilegalmente. Já ocorreu de o Ibama resgatar uma ave, fazer a soltura, e tempos depois resgatar de novo a mesma ave”, conta.

Além das ações de combate e fiscalização, muitas aves são resgatadas através da entrega voluntária e denúncias que podem ser realizadas através do aplicativo IMA Denuncie, do Canal Verde (0800 082 1523) que pertence à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), das redes sociais dos órgãos, do e-mail do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), bpa.alagoas@gmail.com, além dos números 2122-8300 (Ibama), 3315-4325 (IMA) e 181 (disque-denúncia). Não é preciso se identificar para que a denúncia seja efetuada.

Clique sobre as imagens e seja levado aos links correspondentes

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BPA.jpg

Site BPA

Aplicativo IMA

Denuncie

canal verde.png

Canal Verde Brasil - Site ANTT

Criar Legal

Foto: Bianca Melo

Criar

Legal

Criatórios legalizados trazem esperança para a preservação de espécies ameaçadas de extinção

A lei é clara: é terminantemente proibido ter em cativeiro animais silvestres provenientes do tráfico. Alguns a julgam injusta e exagerada, porém a lei tenta coibir a destruição em massa de nossas espécies silvestres. Não é apenas um pássaro sequestrado de seu habitat, mas todo um ecossistema desequilibrado pela ação do homem como um efeito dominó: um pássaro adulto é levado, e toda sua ninhada morre de fome.

 

As portarias 117 e 118 de 1997, do Ibama, que regulamenta a criação e comercialização da fauna brasileira, deu aos amantes desses bichinhos uma alternativa “environment friendly”, amigável ao meio-ambiente no passo em que promove a preservação de espécimes ameaçadas de extinção ou já extintas em seus habitats naturais: os criatórios legalizados.

 

Divididos entre criadores amadores e comerciais, a grande diferença entre eles é que os criadores amadores podem criar uma quantidade máxima de 100 aves, não possuindo licença para comercializá-las. Já o criador comercial pode criar uma quantidade indefinida de aves em seu plantel e comercializá-las legalmente para compradores interessados. Importante ressaltar que ambos precisam ser devidamente cadastrados pelo Ibama.

Tancredo Pereira é criador legalizado desde 2006, tornando-se criador comercial no ano passado ao fundar o criadouro Pau-Brasil, localizado em Maceió/AL, que abriga cerca de 60 curiós. Amante das aves desde criança, ele conta como foi o processo para a legalização de criador comercial, como o valor dos pássaros é determinado e as principais diferenças entre comerciantes legais e ilegais.

 

 

 

Para trabalhar a evolução do canto, também é essencial que haja uma sala acústica junto ao criadouro, abrigando apenas os machos da espécie, os responsáveis pelo canto, e portanto os mais vendidos. Em Alagoas, apenas dois criatórios comercializam curiós. O proprietário do criatório Ópera Bico de Ouro e zootécnico, Ricardo Pimentel, afirma que é imprescindível que um criador comercial legalizado não realize captura ou adquira animais vítimas do tráfico para introduzir no plantel (local de criação dos pássaros).

 

O processo correto é a obtenção de aves nascidas em outros criadouros para que possa ser realizado o melhoramento genético. De acordo com Pimentel, o tráfico já não desestimula os criadores comerciais “pelo fato de não existir curiós na natureza que concorram com os criados em cativeiro. Acredito que só em Alagoas nasçam uns mil curiós a cada ano. O suficiente para atender a demanda de criadores”.

O criador José Mauro Silva tem 25 anos de experiência com a criação de aves e desde 2002 é licenciado como criador amador. Atualmente, ele cria apenas pássaros curiós e, em 2006, auxiliou na fundação da Associação Alagoana de Criadores de Curiós (AACC), da qual é sócio. Ao todo, são 86 associados. “A regularidade da criação dessas aves ameaçadas em cativeiro é uma questão de sobrevivência das espécies. É nosso papel, como criadores, mostrar a sociedade que, se não for assim, em pouco tempo não teremos mais aves na nossa flora”, diz.

Os criatórios legalizados representam uma forma de trazer esperança para a preservação das espécies ameaçadas, mas não é a única. As ações de combate de instituições especializadas ajudam a minimizar os impactos causados pelo tráfico de animais, mas não são suficientes para inibir totalmente o ato criminoso. A conscientização de cada pessoa é o que realmente possibilita a mudança. Não capturar, não comercializar, não comprar e não adquirir já é uma ótima maneira de fazer sua parte.

Expediente

Reportagem e edição

Bianca Melo

Kerollaynn Gomes

Edição e finalização de vídeos

Bianca Melo

Edição de áudio

Kerollaynn Gomes

Edição website

Bianca Melo

Kerollaynn Gomes

Vídeos

Bianca Melo

Kerollaynn Gomes

Fotografia

Bianca Melo

BPA/AL

IMA/AL

José Mauro Silva

Ricardo Pimentel

Arte

Bianca Melo

Gabriel Alves

Reportagem produzida para a disciplina de Laboratório de Webjornalismo e Jornalismo Multimídia sob orientação da Professora Laís Falcão.

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